Memória dos Jornalistas (Des)plugados

Abaixo, a caminhada até chegar ao Jornalistas Desplugados:

1 A ideia

1.1 Reportagem ou Artigo?

A decisão por fazer uma grande reportagem, como trabalho final da disciplina Comunicação e Tecnologia (COM 104), foi tomada de acordo com a preferência da maioria dos membros do Grupo 5, que é formado por estudantes de Comunicação Social/Jornalismo. Apenas um dos participantes optou por fazer um artigo, porém o restante da equipe preferiu a elaboração de uma grande reportagem. O critério foi, basicamente, a afinidade com o trabalho prático – considerando a produção de vídeos, por exemplo. Um artigo não estava de acordo com as disposições do grupo e exigiria uma análise muito maior do que a que nos propomos neste memorial. Além disso, com a execução do trabalho não-teórico, o grupo poderia utilizar a internet como interface para a publicação da reportagem, que foi objeto de análise recorrente durante o decorrer das aulas.

1.2         As opções e o enfoque

Foi sugerido pelo professor André Lemos que as atividades de conclusão abordassem aquilo que foi trabalhado pelos grupos, durante o semestre, em seus respectivos blogs, uma das atividades da disciplina. Todos os grupos da turma seguiram a sugestão.

O exercício de postar notícias e outras informações a respeito do jornalismo digital, no blog  HTTPauta, despertou o interesse da equipe sobre uma área que vem crescendo: o jornalismo digital feito com o auxílio de dispositivos móveis, tais como celular, câmeras digitais e computadores portáteis. As aulas do professor Fernando Firmino, estudioso do tema “ Jornalismo e Mobilidade”, também influenciaram a decisão da equipe. Em um dos seus artigos ele fala sobre este tema:

(…)A relação jornalismo e mobilidade não é realmente nova e remonta ao início do jornalismo vinculado às exigências pelo imediatismo, pelo acompanhamento dos fatos em cima dos acontecimentos. Entretanto, há algo novo neste campo se instaurando a esta estrutura técnica disponível – tecnologias móveis digitais avançadas e conexões sem fio passando por redes de alta velocidade que podem ser acionadas por dispositivos portáteis como celulares e smartphones. (SILVA 2008)

No primeiro momento, após alguns dias de reflexão sobre a forma de execução da reportagem, decidiu-se realizar a cobertura de um evento, sendo que os  membros atuariam como repórteres. Depois, eles acompanhariam a rotina de trabalho de um jornalista digital de um dos veículos da cidade. Porém, ao tentar contato com o Portal do Jornal A Tarde, o grupo foi informado de que existe um repórter que utiliza dispositivos móveis, mas apenas em ocasiões especiais, como durante a implosão da Fonte Nova. Neste momento, o grupo começou a buscar alternativas, já que a pretensão era encontrar um profissional que trabalhasse dessa forma diariamente.

Entretanto, a equipe demorou para redefinir o foco da reportagem. Alguns membros questionaram se seria viável fazer uma reportagem sobre este assunto de maneira que o fazer jornalístico local aparecesse, já que foi constatado, a partir dos primeiros contatos, que o jornalismo digital feito em Salvador ainda não julga necessária a existência de um repórter que trabalhe exclusivamente com essas tecnologias. Além disso, durante as discussões, que aconteciam ao término da aula, a maioria da equipe argumentava notar que o trabalho dos jornalistas digitais da cidade se resumia ao uso do “ctrl +c, ctrl+ v”,  impressão essa que foi reforçada após pesquisas e conversas com colegas que estão no mercado de trabalho.  A partir disso chegamos a concluir que, em Salvador, prevalece a ausência do que Silva chama de ambiente móvel de produção.

(…) Em paralelo ao desenvolvimento desta rede (a internet), um conjunto de tecnologias móveis digitais e conexões sem fio se constituía para formatar o que será denominado aqui de ambiente móvel de produção, uma estrutura caracterizada pelo uso destes recursos e conexões para a realização do trabalho jornalístico a distância e desencadeada de forma mais adequada no início do século 21. No âmbito jornalístico este ambiente pode ser compreendido como uma redação móvel com praticamente toda a estrutura necessária de uma redação física para a produção jornalística em condições de mobilidade.(SILVA, 2008)

Ainda assim, o Grupo 5 decidiu que relatar o relativo atraso do fazer jornalístico local também seria interessante. Dessa forma, a proposta da reportagem é mostrar a rotina produtiva do jornalismo digital em Salvador, apresentando não só os recursos de tecnologia móvel usados nesse processo, mas também as implicações no conteúdo das reportagens. Além de apresentar, a partir da experiência do grupo e do relato dos profissionais da área, as dificuldades enfrentadas pelos repórteres durante a cobertura em tempo real.

2   Produção da Reportagem

2.1 Divisão do Trabalho

Laís Gomes e Renato Oselame ficaram responsáveis por entrevistar os editores dos portais Correio 24horas e do A Tarde Online. O objetivo seria entender a rotina produtiva dos jornalistas e saber se os dispositivos móveis tem sido utilizados durante o trabalho. Vitor Andrade ficou responsável por entrevistar o professor Fernando Firmino, mas este não pôde responder às perguntas via internet por falta de tempo. Assim, ele entrevistou a professora Suzana Barbosa, especialista em Jornalismo Digital. Caroline Aquino e Fernanda Aragão ficaram responsáveis pela elaboração desta Memória, a qual também teve participação dos demais membros. As duas também participaram ativamente do primeiro exercício do trabalho, que foi a cobertura do evento.

2.2 Estrutura

A grande reportagem foi produzida para ser veiculada na internet em um blog (jdesplugados.wordpress.com). O conteúdo é multimídia, apresentado através de textos, com alguns hiperlinks, fotos e vídeos publicados previamente na rede social You Tube. O grupo hospedou a reportagem na plataforma WordPress. Cada página do blog apresenta um intertítulo da reportagem.

A primeira parte da reportagem traz uma descrição da nova vertente do jornalismo digital: o jornalismo móvel e a contextualização do seu cenário no país e na capital baiana. Na introdução da reportagem, também é citada a cobertura do AgenciAÇÃO. Logo após, é feito um panorama do uso de tecnologias móveis no jornalismo online na cidade, através das informações colhidas em entrevistas aos editores dos portais citados anteriormente.

Na terceira parte, a reportagem traz a visão da professora Suzana Barbosa sobre o fenômeno no âmbito local e, por último, a experiência dos integrantes da equipe durante a cobertura do evento.

2.3 Ordem de Execução

Embora apareça por “último”, a cobertura do evento foi o primeiro exercício desempenhado pelo grupo. Na sequência, foi realizada a entrevista com a professora Suzana Barbosa e o início da produção do texto da reportagem. As visitas às redações dos jornais e as entrevistas foram as últimas atividades a serem feitas por causa da disponibilidade dos entrevistados.

2.3.1 A cobertura do evento

O Grupo 5 decidiu fazer a cobertura do “AgenciAÇÃO”, evento que foi realizado na Faculdade de Comunicação da UFBA, em Ondina,  no dia 22 de novembro de 2010. O AgenciaAÇÃO foi uma manhã cultural promovida para Agência Experimental, grupo da Universidade Federal da Bahia que trabalha com comunicação comunitária, com o intuito de aproximar a arte produzida por comunidades carentes da universidade. O evento foi escolhido por causa da facilidade de acesso e disponibilidade de suporte para a produção do material jornalístico: a internet wi fi. Além disso, por causa da segurança, já que em Salvador ainda não é seguro utilizar equipamentos eletrônicos, relativamente caros, em qualquer lugar.

Caroline Aquino, Laís Gomes, Vitor Andrade e Renato Oselame trabalharam como repórteres. Fernanda Aragão ficou responsável por observar e registrar os bastidores da atividade jornalística por meio de anotações e vídeos feitos com um celular LG 360 e uma câmera digital Samsung. Ela organizou as informações e apresentou a experiência dos outros membros na quarta parte da reportagem. É interessante destacar que o texto final teve a contribuição dos outros participantes e que a intenção foi escrever como se a experiência tivesse sido relatada, por estudantes de jornalismo (nesse caso os quatro membros do grupo), a uma repórter que estaria publicando uma reportagem sobre essa experiância.

O grupo utilizou dois netbooks (Acer e Microboard) e um notebook Dell. Além disso, para que fossem feitos os vídeos do evento, foram usados dois celulares, um  LG KP570 e um Motorola Milestone A853, e outra câmera digital. No caso do áudio das entrevistas, o grupo utilizou um gravador digital.

Durante a cobertura, a equipe produziu material e disponibilizou, em tempo real, no Twitter, no Blog HTTPauta e no You Tube.

A preocupação em publicar a informações sobre o evento rapidamente atrapalhou o grupo no início da cobertura. Os repórteres não conseguiram estabelecer uma divisão clara das funções e cada integrante atuou como repórter multimídia, mesmo que sua habilidade principal não estivesse ligada a audiovisual, por exemplo. Essa, aliás, é uma tendência frequente no cotidiano dos jornalistas:

“(…)  a web modifica os processos de produção em todas as redações e uma gama de habilidades que um curso de Jornalismo deve oferecer na formação de um profissional, considerando os seguintes aspectos, os quais é importante registrar e destacar: “a necessidade de ir além da formação técnica; a combinação do jornalismo on-line com outras práticas profissionais, realidade em um mercado de trabalho em que muitas vezes o mesmo profissional deve desempenhar funções ligadas à web e a pelo menos mais uma mídia; (…) ”. (MARTINS, 2010)

No decorrer do trabalho, a equipe foi se organizando, porém enfrentou problemas com os equipamentos. Por não terem previsto que as baterias dos computadores portáteis poderiam descarregar (o que parece ser óbvio), não houve preocupação em organizar a “redação móvel” em um local próximo a uma tomada. Assim, após mais ou menos uma hora e meia de cobertura, toda a estrutura técnica teve que ser deslocada. Sendo que, neste momento, apenas um computador continuou trabalhando. Entretanto, o imprevisto não acabou com o trabalho. A equipe decidiu continuar tuitando através de um dos celulares.

Durante o desenvolvimento do trabalho, a todo instante, o participantes refletiam sobre o que estavam fazendo. Falavam sobre as dificuldades enfrentadas, a má qualidade dos textos publicados e os imprevistos.

2.3.2 Entrevistas

A reportagem utilizou, basicamente, três fontes. Uma estudiosa e dois jornalistas.

A preocupação em entrevistar um especialista em jornalismo digital se justifica pelo desejo de trazer para a reportagem uma visão mais conceitual sobre o assunto. A primeira fonte contactada foi o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Fernando Firmino da Silva, que não pôde atender ao pedido de entrevista porque está em período de conclusão do doutorado. Diante dessa impossibilidade, sugeriu-se a pesquisadora Suzana Barbosa, professora da disciplina de Jornalismo Online, da Faculdade de Comunicação da UFBA a ser entrevistada pelo componente Vitor Andrade.

Suzana é jornalista formada pela UFBA, mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela mesma instituição. Ela fez pós-doutorado na Universidade de Santiago de Compostela / Espanha, em 2008. Seus interesses de pesquisa estão voltados para o jornalismo nas redes digitais, a convergência jornalística e as redes sociais.  É pesquisadora associada do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJOL/UFBA). Durante a entrevista foi abordada a realidade do jornalismo online aqui na Bahia, em especial em Salvador. Foram feitas perguntas sobre as rotinas produtivas, a comparação do jornalismo online produzido na Bahia e em outros estados, o hábito da população local em receber informações via internet.

Renato Oselame ficou encarregado de entrevistar Felipe Barbalho, editor do A Tarde Online, a fim de compreender melhor a rotina dos profissionais que trabalham na elaboração das matérias para este site e as principais diferenças e relações entre o que é produzido para o jornal impresso e o que vai para a edição online. Também foram pontuadas questões sobre o envio de material (fotos e vídeos) por repórteres nas ruas e como é realizada a cobertura de eventos como o Carnaval.

Laís Gomes, integrante responsável pela análise da utilização desses novos dispositivos no Portal Correio 24 horas, foi conversar com Gustavo Acioli, editor-chefe da plataforma online do Jornal Correio. A fim de levantar dados preliminares, Laís perguntou como se estrutura o portal – equipe, suporte de alimentação do site, quantidade de acessos, quais dispositivos móveis são utilizados, uso de redes sociais, entre outros. Conhecida a funcionalidade do portal, Gustavo foi questionado sobre a existência ou não do repórter 3G. Sobre isto, encontrou dificuldade em obter uma reposta precisa, já que não houve, por parte do editor, uma distinção clara daquele repórter que, ainda lançando mão de dispositivos móveis, permanece dependente do espaço físico da redação, daquele dito mobile, que utiliza a tecnologia 3G para mandar informações de onde quer que ele esteja e no momento em que o fato acontece.

3   Conclusão e impressões

3.1 O objetivo foi alcançado?

O objetivo do trabalho foi alcançado, pois  a equipe conseguiu realizar a reportagem no formato proposto. Mesmo com dificuldade, foram recolhidas informações sobre o jornalismo digital realizado em Salvador, sanando a curiosidade despertada em relação ao tema, durante as atualizações do blog HTTPauta. O material produzido será publicado, servindo de banco de dados para outros estudantes da área, mais um dos objetivos da equipe. Apesar do relativo sucesso, registra-se aqui a frustração ocorrida no que se refere ao baixo uso de tecnologias móveis na produção local.

3.2  O que pensa o grupo

A tecnologia assim como facilita o trabalho do jornalista pode trazer também alguns empecilhos à realização do mesmo. Problemas técnicos como a falta de cabos para recarregar bateria e a dificuldade em conectar à internet são alguns exemplos.

O grupo constatou, na prática, o que foi discutido no decorrer da disciplina: o uso de outras interfaces (nesse caso o papel) não desaparece com a utilização das novas tecnologias. (GOMÉZ, 2006)

A liberdade e a facilidade de produção também foi observada como um ponto positivo. É fácil publicar um conteúdo sem precisar passar por mediações de grandes empresas de comunicação. Situação também bastante discutida em sala de aula.

É importante dizer ainda que a experiência de fazer uma cobertura jornalística em tempo real foi uma das partes mais interessantes do trabalho. Para a equipe, durante este tipo de trabalho, concretiza-se o objetivo ideal do jornalista: chegar ao extremo da atualidade, ao publicar os acontecimentos na medida em que ocorrem. (ADGHIRNI, 2002)

Referências bibliográficas

ADGHIRNI, Z. L. Jornalismo online: em busca do tempo real . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 25., 2002, Salvador. Anais… São Paulo: Intercom, 2002. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1904/18685> Acessado em: 01 dez. 2010.

GÓMEZ, Guillermo Orozco. Comunicação social e mudança tecnológica: um cenário de múltiplos desordenamentos. In: MORAES, Dênis de. (org) Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.

MARTINS, G. L. Resenha Jornalismo on-line: modos de fazer.  BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH, Florianópolis, v.6, n.1, p.233-236, 2010.

SILVA, F. F. Jornalismo reconfigurado: tecnologias móveis

e conexões sem fio na reportagem de campo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 31., 2008, Natal. Anais… São Paulo: Intercom, 2008. Disponível em :

<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-0652-1.pdf> Acessado em 01 dez 2010.

 



Deixe um comentário